Mais de quatro mil páginas e quase 3 anos depois, no pôr-do-sol deste sábado... eu terminei a leitura de A Torre Negra. Não acho que seja uma notícia a ser compartilhada com ninguém em especial. É uma conquista tão estupenda para mim que penso que ela deve ficar guardada no meu coração, não ser divulgada como uma notícia a ser diminuída pelos olhos e ouvidos de outras pessoas. O êxtase e o vazio psicológico/emocional que isso me causa são tão imensos que quase ouço a canção da rosa a me puxar.
Não é fechar um livro, é fechar 7 volumes de uma história, fechar as portas de uma jornada, encerrar inúmeros mundos além deste entre palavras que, se soltas, talvez não rendessem nem um dicionário escolar, dada sua simplicidade. É chegar ao fim de uma jornada que, inquieta, não fica inerte dentro de folhas, ela se une ao leitor como mais uma peça de um ka-tet invisível. É incrível ter sobrevivido à grandeza da Torre Negra e à implacabilidade do ka, essa força imensa.
Não é uma jornada fácil, os desafios são muitos. Tanto para leitor, quanto para narrador, personagens, tudo. São muitos mundos que convergem para uma única coisa e o que une estes mundos é um elo só: A Torre Negra, os 7 livros que narram essa busca e que levam o leitor pela mão por lugares jamais imaginados por uma mente preguiçosa. Como se Stephen King fosse apenas o mediador de todos os pólos, a história flui da mente dele para a mente do leitor, como se o "toque" fosse algo mais corriqueiro do que se possa crer.
Incontáveis vezes dormi de coração tranquilo sabendo que o ka-tet dormia e respirava pesadamente ao longo do caminho.
Não raras foram as ocasiões em que me esvaí em tiros, matando com meu coração.
Perdi a noção das vezes que precisei forçar meus olhos marejados além do horizonte para ver se haveria um inimigo à espreita.
E por quantas vezes eu maldisse o ka, essa roda geradora de uma existência que eu não posso controlar?
As dores, os risos, as palestras... cada gosto, cheiro e sensação ao longo do caminho, costurados pela ansiedade de um ka-tet que não era meu.
Mergulhei em um par de olhos azuis cravejados de marcas que traziam consigo o peso da idade do mundo e senti as dores de um parto indigesto que consumiria uma maternidade doentia impensável.
Sofri duas mortes precoces e revivi depois de um vício que quase me custou a vida. Aprendi que o amor não se mede pelo tamanho do corpo mortal que é deitado à terra perante a morte. O ka ensina o poder do amor de uma forma trôpega, às vezes.
Eu, Debora, terminei minha jornada enquanto outras tantas criaturas abrem o primeiro volume pela primeira vez. O meu ciclo se fechou... mas milhares de outros estão se abrindo enquanto deito aqui minhas impressões de tudo o que vivi entre as páginas desta saga. Sinto a dor do adeus e aquela saudade boa que nos faz lembrar todo um percurso quando nos vemos aos pés da majestosa Torre.
O sofrimento final não é privilégio apenas do protagonista. É a dor de muitos em inúmeros ondes e quandos. É dor que ultrapassa o calibre das milhares de páginas. Roland, eterno peregrino rumo à Torre Negra que por essas horas cruza novamente o deserto em busca de respostas e de uma predestinação, como um eterno salvador do elo que equilibra todos os mundos. E quem teria mais coração que ele para encarar tudo isso?
Longos dias e belas noites, pistoleiros. Que o ka seja gentil com vocês.
Um comentário:
que relato pronfundo, deb. adoro ver essas impressões pós-leitura. =)
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