2 de out. de 2011

de quando eu, de fato, descobri o amor

... para ser lido ao som de Someone Like You (não precisa ler se não quiser, é só uma utilizada de blog como divã)



Esses dias tive um surto psicótico. Daqueles de quase morrer... de chorar de soluçar como uma guria histérica que teve a primeira desilusão amorosa. E foi, tarde mas foi.
Estava em casa, na minha rotina de sempre quando, ouvindo um cdzinho, me apareceu Someone Like You com um solo que chama o ouvido a prestar atenção. Sentei pra sentir melhor a melodia e ver o que a gordinha tinha pra dizer. Foi o que bastou pra me destruir. Eu andava nostálgica desde o dia anterior... achava que pudessem ser efeitos de uma TPM fora de hora, ou saudade do meu Morfeu que está passando uns dias no SPA da vovó, ou stress, ou fome, ou qualquer coisa. Mas Adele conseguiu desencadear uma reação que me abriu o peito. E eu duelei comigo mesma pra botar pra fora o que me perturbava.
Assumi, entre muitas negativas e contra minha própria vontade, o que me incomodava e passou a incomodar ainda mais: assumi uma perda que eu nunca pensei que tivesse sido tão grande na minha vida, assumi um amor perdido que eu nunca assumi nem pra mim.
Nessas minhas histórias de ser fria, ser durona, de o amor não existir, vi o amor passar debaixo do meu nariz e desprezei, ignorei completamente. E nesse dia dilemático que doeu até que eu cansasse e fosse dormir, eu assumi ele, revivi tudo mentalmente e sofri o que estava engasgado desde que eu perdi a perda que eu não sabia que havia acontecido pra mim.
Não foi uma história de amor digna de filmes, mas eu a descobri minha, e me orgulho de ter tido forças pra assumir, mesmo que tarde tudo o que eu senti. Melhor que isso: exorcizei, limpei o coração e percebi erros de trajeto que nunca tinham me ocorrido antes.
Posso dizer que não é o tipo de história com final heroico, nem de happy ending. Mas eu consegui expor o que me aconteceu durante todo o período que me estremeci de paixão em uma carta quilométrica que enviei logo que coloquei o ponto final. Pedi que não me fosse enviada resposta. Não quero repensar essa história, ela terminou no momento que eu consegui tirar aqui de dentro meu hóspede.
Vou transcrever alguns trechos da carta, vale a pena ser lida novamente (por mim mesma). Se leu até aqui, não espere nomes. Quem conhece a história, conhece. Quem não conhece, não precisa saber de quem se trata.



"(...)Vou evitar as formalidades clássicas... nunca fui formal e nem vou ser agora. Sabes como sou, não preciso de apresentações.
Hoje, por um acaso do destino, baixei uma música que te tirou de onde eu te mantinha trancado dentro de mim. Se quiser parar de ler, agora é a hora. Antes de eu soltar tudo que eu nunca soltei de fato... aquilo que eu mantive velado até agora que tomei coragem pra abrir meu peito.

A música diz o seguinte:
'I heard that you're settled down

That you found a girl and you're married now
I heard that your dreams came true

Guess she gave you things, I didn't give to you


Old friend
Why are you so shy?

It ain't like you to hold back
Or hide from the light



I hate to turn up out of the blue uninvited
But I couldn't stay away, I couldn't fight it

I hoped you'd see my face and that you'd be reminded
That for me, it isn't over



Never mind, I'll find someone like you
I wish nothing but the best for you, too

Don't forget me, I beg, I remember you said
Sometimes it lasts in love

But sometimes it hurts instead
Sometimes it lasts in love

But sometimes it hurts instead


You'd know how the time flies
Only yesterday was the time of our lives

We were born and raised in a summer haze
Bound by the surprise of our glory days



I hate to turn up out of the blue uninvited
But I couldn't stay away, I couldn't fight it

I hoped you'd see my face and that you'd be reminded
That for me, it isn't over yet



Never mind, I'll find someone like you
I wish nothing but the best for you, too

Don't forget me, I beg, I remember you said
Sometimes it lasts in love

But sometimes it hurts instead


Nothing compares, no worries or cares
Regrets and mistakes they're memories made

Who would have known how bitter-sweet this would taste


Never mind, I'll find someone like you
I wish nothing but the best for you, too

Don't forget me, I beg, I remembered you said
Sometimes it lasts in love

But sometimes it hurts instead
Sometimes it lasts in love

But sometimes it hurts instead'



Eu imagino que a essas horas já estejas com tudo mais do que entendido, mas eu preciso falar... e como falar não dá de ser olho no olho, eu decidi escrever.
A verdade que eu nunca assumi foi o quanto tu mexeu comigo desde o começo... de uma forma que nunca ninguém mexeu e, apesar do senso comum que isso soa, eu realmente te amei e nunca consegui te tirar da minha cabeça. Nem depois de tanto tempo.

Não pensa que isso foi depois de esse ou aquele ocorrido. Não. Não tem nada disso. Foi antes disso que tu já tinhas te entranhado na minha cabeça, foi no começo,(...)... as tuas trollagens, tuas risadas. O conjunto da obra me ganhou. Eu, que sempre tinha sido tão fria e durona me vi amolecendo pouco a pouco por uma criatura (...) que eu nem sei daonde surgiu, contando uma piada idiota de “bom diaê” e que marcou. O DVD de asneiras com o Bátema e uma foto do primeiro churras no menu principal, as piadas idiotas em horas indevidas(...)bolão de lovely... bah, e as cantorias? Nunca mais ouvi My Immortal e Refrão de Bolero.
Foi só besteira juvenil... mas mesmo hoje não esqueço da tua voz, da tua risada mais histérica, e nem do teu cheiro que eu pouco tive a oportunidade de sentir. Teu lábio marcado... ahahaha. Nem sei o que comi ontem, mas lembro cada detalhe teu.

Acontece que o destino mandou e foi como tinha que ser desde o início. Não estou te pedindo nada, nem quero que me respondas, só quero me abrir e ver se me livro desse peso que eu carrego desde que cruzei contigo a primeira vez na FURG. Tu, as tuas bermudas de mil bolsos e o teu caminhar mancado por causa do long(...).
Toda aquela pose de machona que eu levava, tudo mentira... quer dizer... mentira a partir do momento que eu percebi o quanto me movias. Eu tinha medo de te assustar, de fazer com que te afastasses de mim se eu um dia tentasse falar algo. E eu até cheguei perto de te falar aquela vez no lago (...) lembra? Mas nunca consegui. Não era por falta de coragem... era por achar que eu precisava te ter próximo, nem que fosse só como amigo.

E aí veio o tempo em que (...) a distância pegou pra mim. Perdi a conta das noites que passei em claro escrevendo escrevendo escrevendo sem fim e aos prantos pensando uma maneira de conseguir tocar adiante as coisas. Não que eu fosse morrer, mas ficou mais difícil. Mas apesar disso, tu te mostraste leal a mim, não sumindo. E não sabes o bem que tu me fazias quando ias no departamento pra jogar conversa fora... e eu, sempre desajeitada, acabava correndo contigo (...). Eram uns poucos minutos, mas tu iluminavas meu dia com aquilo. E as idas ao Rosa nas sextas... era tudo o que mantinha meu pé no chão.
Foi quando veio teu namoro, e eu nunca vou esquecer o dia que (...) te vi com ela, no fim de um beijo. Naquela noite eu bebi tanto, tanto, mas tanto... que era anormal pro meu padrão de bebedeira. Escrevi tanto, risquei, rimei, rasguei. Queria esquecer, queria afogar o que eu tinha visto, queria sumir, louca e bêbada pela rua. Só piorou. E foi aí que a minha coragem de tentar te dizer qualquer coisa se esvaiu de vez. Esgotou, acabou completamente. Zero XP.

A partir daí eu me enlouqueci... bebendo, saindo, dando em cima de geral porque eu tinha que me vingar, eu tinha que fazer doer em ti como doeu em mim. Mas eu sabia que o poço era seco, que não ia sair dor de lado nenhum. Estavas feliz e eu não podia estragar isso com acessos infantis de perdedora. Meu jeito foi o afastamento. Foi quando eu achei [alguém] e achei que gostava dele e achei que era feliz ao lado dele. Foi a pior coisa que eu podia ter inventado. Mas eu toquei em frente, esperando te substituir. O que eu não sabia era que eu não ia conseguir.
E o relacionamento andou,(...) e eu me separei (...) do canalha. E eu sofri mais ainda, e eu chorei mais ainda... e bebi mais ainda, não dormia, não comia e já quase não tinha mais vida. E não foi por ele toda essa apoteose de fiasco, foi por me deparar mais uma vez com a verdade de não poder te ter, e por me sentir (como agora) impotente perante a situação. Me feri, me incomodei na busca de um escape. E não deu.

Em 2009 eu tive uma apresentação na qual eu falei sobre “Friendship”... e eu fiz um vídeo com o nosso grupo clássico de caos (...). O grand finale foi a última vez que cantei My Immortal. Um colega tomou tua posição ao violão e eu cantei. Foi a pior vez que cantei. A voz não saía e eu só queria chorar. A tua ausência foi a minha fraqueza e insegurança... não só a tua ausência ali do meu lado, mas fora da minha vida.
Os anos se passaram, o nosso contato apesar de menos freqüente nunca foi cortado e veio a tua formatura. Tu, lindo, togado e discursando... me enchi de orgulho como se fosse algo meu. E chorei escondida no meio do público por saber que era ali que acabava de vez todo e qualquer contato. Estavas indo (...). Era game over pra mim, mais do que já havia sido desde 2006.

E mais tempo se passou... não teve ano que eu não lembrasse do teu aniversário, mesmo não falando nada. Não teve noite que eu não tenha deitado a cabeça no travesseiro sem direcionar ao menos um pensamento, uma energia pra ti. Não teve poema que eu tenha escrito que não tenha um pedaço teu. E, apesar de toda essa dor que eu carrego escondida, muito me conforta saber que tens tido uma vida feliz (...).
Não vou te alugar mais com tantas lágrimas que já proferi por aqui. A carta toda está permeada de “chorei” , “bebi” e “sofri”. Não quero que penses que o que senti por ti só me trouxe dor. Pelo contrário... era o que me estimulava a cada dia que eu pensava na possibilidade de te ver, ouvir tua voz, ver teu sorriso escancarado, nem que fosse só de passada e ouvir o que tinhas pra dizer, mesmo quando eu ficava nervosa que nem guria nova e virava café por cima de mim mesma na tua frente.

Gosto de relembrar tudo o que passei do teu lado, mesmo sabendo que eu vivi um platonismo que eu mesma criei. E gosto de saber que eu não sou tão fria para sentimentos como eu sempre pensei que fosse. Fico feliz em ter tomado forças pra admitir pra mim mesma e, conseqüentemente, pra ti o que sinto. Acho que agora eu te exorcizo de vez.
Estou descobrindo que ter te mantido trancado num quartinho num canto do meu cérebro não foi solução, tu sempre deu um jeito de escapar de lá e me assombrar, me lembrando que fracassei... o segredo era ter te desprendido de mim desde o início. Parece assunto de esquizofrênico, mas só eu sei como foi conviver com as lembranças de ti. Mas esquece... esquece isso tudo que falei aqui, esquece... eu só precisava mesmo desabafar, me abrir... pra dizer que eu nunca te esqueci, que tu nunca saiu da minha cabeça... nem do coração. Por mais difícil que tenha sido pra mim, agora eu vejo que abrir o jogo é menos trabalhoso do que lidar comigo mesma nas noites em que sonho contigo e acordo feliz como uma boba alegre. E não te preocupa, eu não vou “babar muito pelo Sawyer” (lembra dessa dedicatória no DVD?)... eu já babei demais foi por ti. E acho que estou cansada de tanto carregar esse incômodo em mim... não que tu sejas um incômodo, nunca foste. Mas as lembranças e a frustração se tornaram incômodos constantes. Há muito tempo.

Já me estendi demais e nem sei se chegaste até aqui, mas fica tranqüilo. Eu vou bem por fora. Me formei, Saí de casa, fiz meu piercing, me tatuei... estou levando a vida que sempre quis. Sou professora de inglês, ganho bem, crio gatos, sou administradora do stephenking.com.br e até na Polônia eu já andei dando entrevista sobre Stephen King. Estou vivendo das minhas paixões. Só faltou uma... e dessa eu estou tratando de esquecer.
Te agradeço, (...)... por seres quem és, por teres sido quem foste comigo em todas as ocasiões, porque mesmo quando foste mais troll nos deboches, ainda assim foste de uma gentileza bárbara comigo.

Quem sabe um dia a gente se reencontra. Um beijo, dessa vez, o último. Te amo.



Debora."