2 de jan. de 2010

Mães putas, filhos infelizes

     Com 19 anos, era casada e passava dificuldades com o marido que dizia amar loucamente. Ela morena, ricos olhos pretos de jabuticaba, passado bem sujo. Ele mais velho, negro, feio e fedido.

     Apesar de toda dificuldade financeira e das brigas pela falta de higiene do marido, aceitou bem a gravidez e jamais pensou em separar-se. Afinal, ela era uma menina de 19 anos! E ele era o amor dela, tinha feito com que ela largasse as drogas e o cigarro e blablablabla/açúcar.

     Pai feliz, jamais pensou que poderia gerar uma vida por desconfiar ser estéril. Milagres são pra isso, e aquele era um tempo em que ele estava recebendo pessoas religiosas na casa dele. Casa  essa mobiliada quase que por inteira à base de doações. A cama mesmo foi um sofá cama doado pela vizinha que era muito amiga da mulher.

     Nascido o bebê. Uma criança linda. Cabelos louros enrolados como de anjo, olhos azuis como duas pedrinhas e a pele branca de leite. Pai muito feliz só sabia dizer: meu filho é lindo e é a cara do pai! As visitas, nada à vontade só sabiam concordar com o fato de a criança ser idêntica ao pai.

     Realmente, a cara do pai...

     O tempo foi passando, a menina fazia uns leites estranhos com maizena e o diabo a quatro, a pobre criança chorava pra beber aquilo que compensava a vontade que a mãe tinha de não amamentar. E o bebê cada vez mais a cara do pai ("olha, o formato do rosto é igual o meu!" dizia o pai feliz). É,o branco dos olhos era igual ao do homem que registrou.

     A mãe tentou aumentar a renda da família de todo jeito: doces, decorações, limpezas e tudo o que lhe ocorreu. Pedia ajuda pra vizinha sempre, um quilo de arroz pra família, meio pacote de açúcar pra tentar vender doce, um isopor pra festa da irmã. A vizinha era prestativa. Além dos mantimentos cuidava do bebê da pobre mãezinha pra que ela tentasse se empregar.

     Foi quando deu-se a reviravolta: visitas estranhas, caminhão de mudança e o sumiço da vizinha.

     O homem enlouqueceu... começou a ouvir músicas tristes no volume máximo e a chorar gritando.  Refez o teste de fertilidade. Estéril.

     A história vazou pela boca dele. A santa da mãezinha havia traído ele com o irmão do ex-noivo. Na cama deles. A criança era mesmo a cara do pai. Do pai biológico, o clone perfeito.

     Então foi o caos: processos judiciais, ódio eterno e desejo de vingança. Pelo menos o homem progrediu na vida depois que a mãezinha fugiu com o irmão do pai da criança pra outra cidade. Se empregou, mobiliou a casa que havia sido esvaziada pela ex e foi estudar.

     Se odiaram eternamente e cada um viveu sua vida. Coisas que nem se podem saber.

     Anos depois o homem some. Dizem que se mudou. Vai saber.

     Ele reaparece. Com a mãezinha. E a criança. Ela, muito dama, nem olha para as pessoas a quem sempre pediu ajuda. Ele, muito senhor de si faz de conta que não conhece as pessoas a quem contou coisas absurdas sobre a mulher. A criança não conhece ninguém, foi embora sendo ainda de colo.

     Hoje em dia, a criança é mais linda do que quando nasceu. Mas tem uma vidinha ingrata. Se ri a mãezinha começa a gritar como uma vaca surtada. Horário de almoço já é conhecido por toda a vizinhança porque é quando ela mais grita com a pobre criança.

     Por não ter se precavido, hoje em dia desconta toda a raiva que tem sobre a criancinha. Trabalha num local insatisfatório, é casada com o homem que um dia ela traiu e negou.... nunca foi feliz na vida e joga tudo isso sobre uma criaturinha que ainda não sabe nada sobre a vida.

     Putas não podem ser mães. Definitivamente.
    



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